Em entrevista a EXAME, guru de marketing digital fala sobre as oportunidades que vê aqui e os erros dos empreendedores brasileiros.
São Paulo – O Brasil passa por uma grave crise econômica e muitos empreendedores encontram dificuldades em prosperar. Porém, o guru de marketing digital Neil Patel vê o cenário de outra forma: “A qualquer momento que eu criar um negócio no Brasil, posso fazer milhões de reais em menos de um ano”, disse em entrevista exclusiva a EXAME durante sua última passagem pelo Brasil.
O britânico já trabalhou com empresas como Google e Airbnb e é considerado um dos maiores especialistas em marketing digital do mundo. Nos últimos tempos ele tem se interessado pelo Brasil.
Recentemente, Patel lançou um desafio para empreendedores brasileiros com a proposta de ajudar uma empresa a melhorar seus resultados – de graça. Numa ação anterior, criou a hashtag #quemeneilpatel, o que gerou um buzz em torno de seu nome, até então pouco conhecido por aqui.
Por que tanto interesse pelo país? “Acredito que há muito potencial aqui e a economia não está indo tão bem. O melhor momento para criar uma empresa e crescer é durante a recessão”, afirmou.
Na entrevista, Patel fala sobre os erros que os empresários brasileiros ainda cometem e que os impedem de crescer mais, especialmente no campo do marketing digital, sua especialidade. Fala também sobre as oportunidades que enxerga aqui e sobre o que observou nas empresas grandes e que pode servir de lição aos pequenos negócios.
Veja os principais trechos da entrevista:
EXAME – Você lançou recentemente um desafio para empreendedores brasileiros e no ano passado lançou a campanha #quemeneilpatel. Por que esse interesse pelo Brasil?
Neil Patel – Eu amo as pessoas no Brasil. Acredito que há muito potencial aqui, o talento das pessoas é maravilhoso, as pessoas são inteligentes, e a economia não está indo tão bem. O melhor momento para criar uma empresa e crescer é durante a recessão. Meu objetivo não é ganhar dinheiro no Brasil, mas sim ajudar outras pessoas a ganharem dinheiro. E esse é o melhor momento para ensiná-las a fazer isso, a ter sucesso e fazer seus negócios crescerem.
Na sua opinião, quais são os principais obstáculos para o empreendedores brasileiros melhorarem seus resultados?
O maior de todos é que aqui eles não usam técnicas de growth hacking. Essa é uma nova forma de fazer marketing que envolve todos os setores do negócio, do marketing à engenharia e ao design, tudo combinado para fazer a empresa crescer mais rápido. E as empresas no Brasil não usam essas técnicas ainda.
Outra coisa é que aqui as empresas são geridas de forma muito ineficiente. A empresa pode ter mil pessoas, mas a forma como elas se comunicam e executam e fazem as coisas acontecerem é muito ineficiente. Isso pode ser consertado. Há maneiras de melhorar as equipes, sua comunicação e o seu esforço. Porque, em negócios, se todos trabalham duro para uma empresa e a ajudam a ganhar mais dinheiro, a pessoas são recompensadas, certo?
Então nós fazemos coisas como metas semanais. Chegamos na segunda-feira e definimos ‘vamos fazer essas coisas aqui essa semana para ajudar a empresa a crescer, e isso está acima e além das obrigações diárias de cada um’. Se começa a fazer coisas desse tipo, a empresa cresce mais rápido e todos ganham mais dinheiro.
Agora falando especificamente em marketing digital, quais os principais erros que os empreendedores ainda cometem nessa área?
Eles olham apenas para um aspecto do marketing digital. Às vezes pensam: “Oh, vamos apostar em SEO. Oh, vamos apostar em anúncios pagos. Vamos tentar marketing nas redes sociais”. No Brasil vemos que as pessoas focam em uma dessas ferramentas. Mas você precisa usar todas elas. O marketing digital não é efetivo se você não fizer tudo junto. Se você aposta em cada coisa separadamente, ele não funciona tão bem.
Hoje fala-se muito em inbound marketing, ou seja, geração de conteúdo pelas empresas. Por que os empreendedores deveriam se preocupar em gerar conteúdo? Não basta oferecerem um bom produto ou serviço?
Imagine que as pessoas não sabem como usar o seu produto, ou que você é uma empresa nova no mercado e as pessoas não confiam em você. O conteúdo ajuda a educar e faz com que você fique numa posição melhor no Google, ajuda a trazer mais tráfego para o seu site, mais oportunidades, mais vendas. Então, para um pequeno negócio, essa é a melhor forma de competir com as grandes empresas.
Você já atuou com empresas gigantes como Amazon, Google e GM. O que diferencia essas empresas dos pequenos negócios? Como elas chegaram aonde estão?
Processos. As grandes empresas têm processos muito bons. Quando alguém chega para trabalhar lá, ele rapidamente sabe o que deve fazer, recebe instruções sobre como realizar seu trabalho todos os dias. As pequenas empresas carecem de processos, e sem processos você não consegue crescer. Você não consegue ganhar escala e crescer rápido sem isso.
Como a estratégia de marketing de uma empresa como a Amazon é semelhante à de um pequeno negócio?
Na realidade, são bem similares. A diferença na grande empresa é a escala, e eles procuram colocar um processo por trás. Enquanto que os pequenos negócios fazem muitos testes. Por exemplo: uma empresa grande vai dizer: ‘Escrever conteúdo é bom, então vamos fazer dez artigos por dia’. Já a pequena empresa vai dizer: ‘Todos estão produzindo conteúdo. Vamos testar escrever conteúdo, vamos fazer isso por um mês e ver o que acontece. Se funcionar, nós continuamos. Se não funcionar, nós paramos’.
As grandes empresas vão a fundo, elas se comprometem, fazem por um período longo e ganham escala. E é por isso que elas também tendem a ter mais sucesso. Porque as grandes empresas sabem que você não obtém resultados logo de cara. Coisas boas levam um tempo para dar certo. As pequenas empresas esperam resultado rápido, o que nem sempre acontece.
Esse é um comportamento comum no Brasil?
Sim, mas há muito potencial aqui, mais do que existe nos Estados Unidos. Isso porque aqui o mercado ainda não foi explorado. Não é competitivo. Nos Estados Unidos, o Facebook tem mais anunciantes do que espaço. No Brasil é o contrário, tem mais espaço que anunciantes. Porque as empresas ainda não entenderam o poder que essa ferramenta tem e, as que usam, não o fazem da melhor maneira. Então é fácil chegar e se dar muito bem de forma rápida.
Nos Estados Unidos temos muito competição, então é preciso otimizar para que as coisas funcionem. Quando você traz essas técnicas para o Brasil, a chance de se dar muito bem é alta. A qualquer momento que eu criar um negócio no Brasil, eu posso gerar milhões de reais em menos de um ano. Qualquer tipo de negócio. Eu já fiz isso, é muito fácil. Temos negócios nas áreas de seguros, finanças, saúde.
Você já tem esses negócios no Brasil?
Sim, mas não falo sobre isso. Só ganho dinheiro e fico calado (risos). Mas posso falar de negócios americanos que estou ajudando a trazer para cá. Um deles é o Dr. Axe, um médico que tem um site muito popular nos Estados Unidos, que fala de saúde e nutrição. Outro é o Timothy Sykes, que ensina pessoas pobres a investirem na Bolsa de Valores.
Qual foi a principal lição que você aprendeu como empreendedor até agora?
As pessoas têm medo de falhar. Mas tudo bem falhar. Você sabia que o Mark Zuckerberg falhou? Elon Musk, Bill Gates, todos falharam. Nem todas as coisas que o Zuckerberg fez tiveram sucesso. Às vezes não deu certo. O Snapchat por exemplo. Quantas vezes ele tentou copiar o app até conseguir?
Tudo bem falhar, se você aprende com os seus erros e segue em frente, eventualmente você vai ter sucesso. Não tenha medo de falhar, olhe para o fracasso como uma lição.